quarta-feira, 30 de novembro de 2005

Zé João, o Tampinhas - parte IX

Mais uma garrafa de água consumida no Café Central, mais uma tampa que Zé João guarda. Por um lado, só bebe água engarrafada de há três meses para cá, quando a Manuela Moura Guedes (MMG)revelou uma análise muito negativa às águas que chegam a casa dos portugueses, através das torneiras; por outro lado, Zé João aumentou ainda mais a consideração que tem para com MMG. No final do Jornal Nacional, algures no mês de Outubro, Zé João ficou a saber que as tampas das garrafas se podiam trocar por cadeiras de rodas. Ficou sensibilizado com a história da Lúcia, que aos 9 anos ficou paraplégica a fazer os trabalhos de casa de Matemática.

Desde então que não mais conseguiu andar pelo seu pé. A reportagem da TVI contava a história como só eles sabem e como o Zé João gosta que lhe contem as coisas, sem medo do ridículo e com emoção a rodos. Também o filho do padeiro teve recentemente um problema na coluna, enquanto assobiava a duas jeitosas raparigas que passavam à frente da obra. O assobio foi tão forte que lhe deslocou algo na coluna que Zé João nem imagina o que é. O padeiro teve bastantes dificuldades em comprar a cadeira de rodas para o filho, tendo para isso aumentado três cêntimos cada papo-seco e juntar mais 10 cêntimos em cada pão de quilo. Mas entretanto, todos os habitantes de Sassoeiros, comandados por Zé João, se entregaram a um esforço sem precedentes, juntando tampas suficientes para trocar por uma cadeira de rodas eléctrica. Ao fim de dois meses e de muito boa vontade, a cadeira de rodas chegava, a bordo de uma carrinha da Chronopost. Foi um dos dias mais emocionantes da história recente de Sassoeiros, que saiu à rua para ver o filho do padeira brincar com o joystick da cadeira de rodas e andar, parar, girar. Toda a gente queria testemunhar o fruto das muitas paletes de água que haviam comprado.

Durante esses dois meses, as mães até deixavam os miúdos beber Coca-Cola só para juntar mais tampas. Chegava-se mesmo ao cúmulo de comprar qualquer bebida que tivesse tampa. Mas apesar do esforço, a cadeira de rodas estava operacional. Zé João continua a juntar tampas de todas as garrafas que apanha, depositando-as dentro de um garrafão vazio. Quando está cheio leva-o ao Café Central, que se tornou o ponto de referência da solidariedade de Sassoeiros. E Zé João tenta sempre convencer mais alguém a juntar tampas. Até agora, o zeloso munícipe conseguiu juntar tampas suficientes para 20 cadeiras de rodas. E fica orgulhoso disso, do alto do seu fundamentalismo solidário. Chega mesmo, sem ninguém reparar, a tirar as tampas das garrafas que vê no lixo ou no chão da rua. Zé João, já conhecido em Sassoeiros como o “Zé Tampinhas” continua a juntar tampas, e o padeiro nunca mais baixou o preço do pão.

O resto da história em:

- A saga do Zé João que só queria retrorreflectir
- A saga de Zé João, parte II
- Zé João aventura-se na Vasco da Gama
- Zé João volta à estrada
- A imagem de Zé João pelas ruas da amargura
- Zé João: a carta velha que ajudou Manela
- Zé João, campeão de sueca de Sassoeiros
- Zé João vai ao Prontoxe

1 comentário:

Marcaquinho do Chinês disse...

"...ficou paraplégica a fazer os trabalhos de casa de Matemática..."!! eheheheheheheheheheheheheheheh. Muito bom!! ;)