Mais uma garrafa de água consumida no Café Central, mais uma tampa que Zé João guarda. Por um lado, só bebe água engarrafada de há três meses para cá, quando a Manuela Moura Guedes (MMG)revelou uma análise muito negativa às águas que chegam a casa dos portugueses, através das torneiras; por outro lado, Zé João aumentou ainda mais a consideração que tem para com MMG. No final do Jornal Nacional, algures no mês de Outubro, Zé João ficou a saber que as tampas das garrafas se podiam trocar por cadeiras de rodas. Ficou sensibilizado com a história da Lúcia, que aos 9 anos ficou paraplégica a fazer os trabalhos de casa de Matemática.
Desde então que não mais conseguiu andar pelo seu pé. A reportagem da TVI contava a história como só eles sabem e como o Zé João gosta que lhe contem as coisas, sem medo do ridículo e com emoção a rodos. Também o filho do padeiro teve recentemente um problema na coluna, enquanto assobiava a duas jeitosas raparigas que passavam à frente da obra. O assobio foi tão forte que lhe deslocou algo na coluna que Zé João nem imagina o que é. O padeiro teve bastantes dificuldades em comprar a cadeira de rodas para o filho, tendo para isso aumentado três cêntimos cada papo-seco e juntar mais 10 cêntimos em cada pão de quilo. Mas entretanto, todos os habitantes de Sassoeiros, comandados por Zé João, se entregaram a um esforço sem precedentes, juntando tampas suficientes para trocar por uma cadeira de rodas eléctrica. Ao fim de dois meses e de muito boa vontade, a cadeira de rodas chegava, a bordo de uma carrinha da Chronopost. Foi um dos dias mais emocionantes da história recente de Sassoeiros, que saiu à rua para ver o filho do padeira brincar com o joystick da cadeira de rodas e andar, parar, girar. Toda a gente queria testemunhar o fruto das muitas paletes de água que haviam comprado.
Durante esses dois meses, as mães até deixavam os miúdos beber Coca-Cola só para juntar mais tampas. Chegava-se mesmo ao cúmulo de comprar qualquer bebida que tivesse tampa. Mas apesar do esforço, a cadeira de rodas estava operacional. Zé João continua a juntar tampas de todas as garrafas que apanha, depositando-as dentro de um garrafão vazio. Quando está cheio leva-o ao Café Central, que se tornou o ponto de referência da solidariedade de Sassoeiros. E Zé João tenta sempre convencer mais alguém a juntar tampas. Até agora, o zeloso munícipe conseguiu juntar tampas suficientes para 20 cadeiras de rodas. E fica orgulhoso disso, do alto do seu fundamentalismo solidário. Chega mesmo, sem ninguém reparar, a tirar as tampas das garrafas que vê no lixo ou no chão da rua. Zé João, já conhecido em Sassoeiros como o “Zé Tampinhas” continua a juntar tampas, e o padeiro nunca mais baixou o preço do pão.
O resto da história em:
- A saga do Zé João que só queria retrorreflectir
- A saga de Zé João, parte II
- Zé João aventura-se na Vasco da Gama
- Zé João volta à estrada
- A imagem de Zé João pelas ruas da amargura
- Zé João: a carta velha que ajudou Manela
- Zé João, campeão de sueca de Sassoeiros
- Zé João vai ao Prontoxe
1 comentário:
"...ficou paraplégica a fazer os trabalhos de casa de Matemática..."!! eheheheheheheheheheheheheheheh. Muito bom!! ;)
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