quinta-feira, 28 de julho de 2005

Ser português...

  • Levar o arroz de frango para a praia.
  • Guardar aquelas cuecas velhas para polir o carro.
  • Criticar o governo local mas jamais se queixar oficialmente.
  • Ladie's night à quinta.
  • Ter tido a última grande vitória militar em "1385".
  • Enfeitar as estantes da sala com as prendas do casamento.
  • Guiar como um maníaco e ninguém se importar com isso.
  • Viajar pó quinto dos infernos e encontrar outro Tuga no restaurante.
  • Ter folclore estudantil anual por causa das propinas.
  • Ninguém saber nada do nosso país excepto os Brasileiros e os Espanhóis que gozam dele.
  • Levar a vida mais relaxada da Europa, mesmo sendo os últimos de todas as listas.
  • Ter sempre marisco, tremoços e álcool anualmente a preços de saldo.
  • Receber visitas e ir logo mostrar a casa toda.
  • Acender os máximos durante 10 km para avisar os outros condutores da polícia adiante.
  • Ter o resto do mundo a pensar que Portugal é uma província espanhola.
  • Exigir que lhe chamem "Doutor" mesmo sendo um Zé Ninguém.
  • Exigir que o tratem por Sr. Engenheiro mas não tratar ninguém com outras profissões por Sr. Pintor, Sr. Economista, Sr.Contabilista,Sra.Secretária, Sr. Canalizador, Sra.Cabeleireira.
  • Passar o domingo no shopping.
  • Tirar a cera dos ouvidos com a chave do carro ou a tampa da esferográfica.
  • Axaxinar o Portuguex ao eskrever.
  • Gastar 10 mil contos no Mercedes C220 cdi, mas não comprar o kit mãos-livres porque "é caro".
  • Ir à aldeia todos os fins-de-semana visitar os pais ou avós.
  • Gravar os "donos da bola".
  • Ter diariamente pelo menos 8 telenovelas brasileiras e 2 imitações rascas da TVI na televisão.
  • Já ter "ido à bruxa".
  • Filhos baptizados e de catecismo na mão mas nunca pôr os pés na igreja.
  • Ir de carro para todo o lado, aconteça o que acontecer, e pelo menos a 500 metros de casa.
  • Lavar o carro na fonte ao domingo.
  • Não ser racista mas abrir uma excepção com os ciganos.
  • Levar com as piadas dos brasileiros, mas só saber fazer piadas dos alentejanos e dos pretos.
  • Ainda ter uma mãe ou avó que se veste de luto.
  • Ser mal atendido num serviço, ficar lixado para toda a vida mas não reclamar por escrito "porque não se quer aborrecer".
  • Viver em casa dos pais até aos 30 anos.
  • Na terceira idade, pendurar o guarda-chuva nas costas.
  • Acender o cigarro a qualquer hora e em qualquer lugar sem quaisquer preocupações.
  • Ter pelo menos 2 camisas traficadas da Lacoste e 1 da Tommy (de cor amarelo canário e azul cueca).
  • No restaurante largar o puto de 4 anos aos berros e a correr como um louco a incomodar os restantes tugas.
  • Ter bigode e ser baixinho(a).
  • Conduzir sempre pela faixa da esquerda da auto-estrada (a da direita é para os camiões).
  • Ter o colete reflector no banco do passageiro
  • Pendurar o cd no retrovisor para "enganar o radar".
  • Ter dois telemóveis.
  • Jurar não comprar azeite Espanhol nem morto, apesar da maioria do azeite vendido em Portugal ser Espanhol.
  • Organizar jogos de futebol solteiros e casados.
  • Ir à bola, comprar "prá geral" e saltar "prá central".
  • Gastar uma fortuna no telemovel mas pensar duas vezes antes de ir ao dentista.
  • Cometer 3 infracções ao código da estrada por quilómetro percorrido.

Zé João volta à estrada - parte IV

Zé João recuperou finalmente a alegria, ao fim de alguns dias. O seu Peugeot 206 parece estar como novo, apesar dos 240 euros que teve de pagar na oficina. A mecãnica não é o seu forte, mas parece que o problema foi do radiador. Assim lhe disseram na Auto Jesus, a cerca de dois quilómetros de sua casa. Chegado finalmente a casa, o seu leãozinho foi automaticamente para a limpeza, porque nas oficinas nunca sabem fazer uma limpeza a sério. Ao fim de quatro horas, muita água, espuma, cera, graxa nos pneus e quase todos os produtos existentes para pôr o tablier a brilhar, o carro estava mais novo do que os novos. E numa espécie de nuvem de loucura que lhe passou à frente da vista, decidiu aproveitar para dar um pequeno passeio. E a esta atitude tão afoita não foi alheio o facto de no Jornal Nacional de ontem, a Manuela Moura Guedes ter dito que os polícias começaram uma greve à multa até ao fim deste mês. Desta vez sozinho, para gozar o seu carro, acabou por, numa vertigem aventureira, entrar no Eixo Norte/Sul. E, desta vez sem sentimentos temerários, pôs o pé no acelerador como nunca antes o tinha feito. Chegou a atingir, durante cerca de 30 segundos os 120 km/h, mas acabou fotografado por um carro descaracterizado da PSP , quase a chegar à Ponte 25 de Abril. Lá dentro estavam dois dos 500 polícias não sindicalizados, que "furaram" o protesto. E o mais grave é que a Manuela não referiu sequer que havia polícias que poderiam multar. Não fosse a imensa estima e Zé João teria mandado a multa de 180 euros para Queluz de Baixo. Resultado: no caminho de regresso a casa, Zé João não passou os 70 km/h, fora das localidades.

segunda-feira, 18 de julho de 2005

Mafioso encontrado morto…

Um dos grandes patrões da máfia ribatejana, Bennito Campino, mas conhecido como “Il Forcado Amattore”, foi encontrado morto na casa de banho da sua moradia, perto de Santarém. Tudo apontava para homicídio, uma vez que Campino andava metido com o gado bovino de outro “padrinho”. O Ventoinha investigou o suposto envolvimento e descobriu que Bennito Campino mantinha o coito, embora esporádico, com um toiro de lide, supostamente engatado na ganadaria de David Ribeiro Telles. Ribeiro Telles, esse Corleone, ou deveríamos dizer: Cornutti, ficou enfurecido e incapaz de ver vermelho à frente, o que o levou, como devem calcular, a ter uma vontade incrível de marrar.
Bennito foi encontrado na sua casa de banho com uma bala alojada no maxilar estando exposta ao seu lado uma arma de fogo – se assim podemos considerar um ferro de marcar gado; uma gillette, o creme de barbear e uma pistola, semi-automática, de calibre 7.65. O V.C.S.I. (Ventoinha Crime Search Investigation) concluiu que Campino não terá sido assassinado, embora o ferro de marcar fosse muito suspeito. Segundo um investigador, mais inteligente e astuto que todos os outros, Bennito terá cometido suicídio assistido, “Pela forma como a bala está alojada, e pelo facto de estar com espuma de barbear na cara, tudo aponta para que ele, em vez pegar na lâmina de barbear, tivesse pegado na pistola que se encontrava junto aos produtos de higiene diária – típico de um mafioso. Quanto ao ferro de marcar, será apenas um vestígio da discussão que tivera com Fabrizio Toro, o seu entroncado amante”. O suicídio só foi assistido porque na altura estava um canalizador a arranjar a sanita.

domingo, 10 de julho de 2005

Frase do dia


A frase do dia, da semana ou do mês, porque pode bem acontecer que não seja aqui publicada mais nenhuma, vem do Alentejo profundo no duplo sentido que a expressão pode ter. Sim, e como perceberam, aprendi a meter fotos muito recentemente. Mas não se preocupem que é só o ímpeto de quem descobriu um brinquedo novo. Já passa. Depois vem a parte de fazer posts a cores e com fontes diferentes, tá?

Contra-fogos


Momento cívico do dia: Esta é uma homenagem a quem combate os fogos por todo o país.

Zé João aventura-se na Vasco da Gama – parte III

Zé João não poderia imaginar que um carro semi-novo, mas em bom estado, pudesse mudar o comportamento de uma pessoa. Pela primeira vez decidiu lançar-se à estrada e passear fora do concelho e Oeiras. Foi ele, a mulher Francisca, e os primos Zeca, Júlio e Aníbal. Os três primos iam apertadinhos, rabos com rabos, no estreito banco traseiro do 206. Apertados mas contentes. Decidiram então, num raro dia de emoção, cruzar a Ponte Vasco da Gama, pela primeira vez. Na bagagem ia uma sande de chouriça para cada um e um garrafa de tinto carrascão. Para a Francisca um Trinaranjus de limão dentro do saco térmico, oferecido no Pingo Doce pela compra de quatro embalagens de medalhões de pescada Pescanova. Sensivelmente a meio da ponte, que faziam a não mais do que 60 km/h para apreciar a vista, e sempre na faixa do meio com medo de cair à agua, o carro, possivelmente cansado pela lotação esgotada e bem pesada do carro, começando pela própria Francisca e por anos acumulados de cerveja na saliente barriga dos primos, mostrou a uma luz vermelha no painel de instrumentos, mesmo por cima do ponteiro da gasolina. Parou imediatamente o carro e, zeloso como é, Zé João vestiu o colete amarelo que tinha dentro do porta-luvas, o mesmo local onde o dono do stand o tinha colocado, e foi ver o que se passava. Já fora da viatura, despiu o seu banco e deu o colete ao primo Júlio, para o ajudar. Foram os dois à bagageira e trouxeram o laranja para o Zeca e o verde para o Aníbal, sportinguista ferrenho. O carro começou a deitar um estranho fumo de dentro do capot e Zé João, praticamente em pânico, diz para os primos: “Está avariado!”, ao que os três consentiram com as cabeças, umas ligeiramente mais oleosas do que as outras. Nisto, Francisca lança uns valentes gritos, estava trancada dentro do carro e queria sair. Mas não podia. Dizia ela que queria ver a vista e olhar para a água. Além disso, estava quase destilada, já que as janelas do carro estavam fechadas para não entrar o pó e porque não convém confiar muito em coisas eléctricas. Passou cerca de uma hora até vir o reboque, o mesmo tempo que Francisca esteve trancada dentro do 206 prata. Porquê? Porque Zé João, apesar de zeloso e de pensar quase em tudo, só tinha quatro coletes retrorreflectores no carro, quando os passageiros eram cinco. E como a Manela Moura Guedes ainda não disse que bastava uma pessoa ter colete - uma vez que se encontra de férias algures pelo Alentejo -, Zé João achou por bem manter a mulher dentro da viatura, até porque a Vasco da Gama está pejada de câmaras de filmar e ele tem medo. Logo na estação de serviço de Alcochete, Zé João pediu ao sr. do reboque para parar e comprou mais um colete, à escolha de Francisca, numa espécie de compensação pelo sacrifício. Já menos vermelha nas maçãs do rosto, escolheu o colete cor-de-laranja, obviamente XL. Agora sim, Zé João diz estar descansado e já pode levar a mulher e os primos a passear, mas só depois do seu Peugeot sair da oficina, coitadinho.

Quero voltar para aqui...

Co-religião em Lisboa

Uma quê? Isso mesmo, uma co-catedral. A ideia peregrina e iluminada foi do ex-futuro Papa, D. José Policarpo, que perdeu na recta final para Ratzinger, fruto do pulmão se ter ressentido do fumo branco do tabaco. Para completar o ramalhete, assinou um protocolo com a Câmara de Lisboa, liderada por Santana Lopes. Dois loucos que chegaram à designação mais ou menos como se decidem as manchetes do 24 Horas. Quanto pior, melhor! Vamos então ter uma co-catedral projectada por um nome grande da arquitectura internacional – ainda em concurso -, novinha em folha, mas subjugada à já existente Sé de Lisboa. Uma espécie de equipa B; mas que vence os jogos todos contra a equipa principal. Nova Catedral não se poderia chamar, uma vez que já existe o Estádio da Luz e, além disso, «velhos e novos são os homens», justifica Policarpo. Assim sendo, vamos ter uma co-catedral, que terá um co-padre, a celebrar co-missas onde os co-fiéis se deslocarão para receber a co-hóstia, num acto co-fiel. A parte boa é que estamos a chegar a uma fase em que a Igreja Católica está a passar a co. Uma espécie de co-religião, cada vez mais distante.

sábado, 9 de julho de 2005

Al-Tozé garante que atentado em Lisboa nunca será antes de 2009

Depois de uma troca de e-mails entre o Ventoinha e uma célula estaminal da Al-Qaida, em perguntas e respostas da direita para a esquerda, podemos assegurar que Lisboa não será alvo de qualquer atentado, pelo menos até 2009, graças às potencialidades da nossa rede de transportes. A garantia é dada por Mohamed Al-Tozé, com justificações verídicas – entretanto comprovadas pelo corpo de operações especiais do Martim Moniz -, que passamos a transcrever:

Ventoinha – Sr. Al-Tozé, há alguma possibilidade de organizar um atentado terrorista a Lisboa?
Al-Tozé – Estudámos essa possibilidade e o novo Governo era a nossa esperança, mas depois de 100 dias a Governar o sr. José já nos desiludiu.
Ventoinha – Como assim?
Al-Tozé – Enquanto Lisboa não for uma cidade organizada, jamais conseguiremos organizar algo decente que possa servir os nossos interesses.
Ventoinha – A rede de transportes da capital não vos dá garantias?
Al-Tozé – Não é preciso ser árabe para saber isso...
Ventoinha – O Metropolitano não seria uma boa aposta?
Al-Tozé – Se não fossem as constantes interrupções por falhas de energia, ameaças de bomba – que nos têm retirado muito protagonismo – e obras a toda a hora que param a circulação até era capaz de ser possível, talvez no Marquês...
Ventoinha – E a rede da Carris? É sempre mais fácil ter acesso aos autocarros...
Al-Tozé – Nas latas velhas nem vale a pena gastar energia, porque à velocidade que avariam, estão sempre vazios, com o triângulo colocado ou dentro da oficina e os novos veículos andam sempre atrasados ou imobilizados por acidente na rotunda do Marquês. Ora, estas coisas são planeadas e as bombas têm de explodir onde nós queremos. Não sentimos qualquer colaboração da parte da Carris.
Ventoinha – E os comboios?
Al-Tozé – Bom, na Linha de Sintra, já por duas vezes que nos roubaram o saco com os explosivos e na Fertagus, que até era um bom alvo por cruzar a Ponte 25 de Abril, os nossos suicidas não têm dinheiro para o bilhete. Há bilhetes para cima de cinco euros e como tem de ser uma coisa planeada, o orçamento não o permite. Mas a JAQ (Juventude Al-Qaida) já entrou com um projecto para conseguir fundos europeus a fundo perdido para a nossa actividade. Está em apreciação.
Ventoinha – Não querendo ser chato, mas há sempre a possibilidade do Aeroporto da Portela...
Al-Tozé – A última vez que apanhei um avião em Lisboa, mudaram-me a porta de embarque quatro vezes, com um atraso de duas horas e meia. Como vocês aí costumam dizer, para bom entendedor...
Ventoinha – Posso então concluir que a rede de transportes de Lisboa é mais forte do que as brigadas da Al-Qaida?
Al-Tozé – Estamos a trabalhar.
Ventoinha – Quando julga ser possível um atentado em Lisboa?
Al-Tozé – Não conseguimos ainda ter nada marcado, mas nunca antes do fim desta legislatura, em 2009. E tudo dependerá de quem formar novo Governo, vamos aguardar com expectativa.

quinta-feira, 7 de julho de 2005

Vocalista dos Duran Duran já tem barba!

Depois de muitos anos de androginia, o vocalista dos Duran Duran começa a dar uns sinais de masculinidade, chegando mesmo a deixar crescer a barba ao ponto do “cerrado”. Espanto-me com isto, o que vai acontecer a seguir?! O Santana Lopes vai deixar de culpar Carmona Rodrigues por tudo e por nada? O défice vai ser explicado a toda a gente? Marques Mendes vai conseguir subir mais alto que a altura da bancada parlamentar? Sócrates vai parar de mentir? O Pinóquio não salva o Gepetto e ele fica preso na barriga da baleia? O Popas não faz as pazes com o Ferrão e com a avó Chica? Os Morangos com Açúcar vão acabar? Meu Deus, nãoooooooooooo!!!
Espero que, depois desta crise de puberdade que está a dar ao vocalista de Duran Duran, as coisas voltem à normalidade, não iria aguentar saber o que é o défice e viver com a possibilidade de os Morangos com Açúcar acabarem – mesmo após os 3.455.987 episódios –, é demasiada pressão para mim!!!

Quim Barreiros vocalista dos Queen!?

No passado dia 2 de Julho actuou, em Portugal, uma das bandas mais aclamadas do pop mundial, mas não se pense que foi por obra e graça do menino Jesus, todo o concerto foi apenas uma encenação para uma jogada de bastidores. O Ventoinha, como é habitual, seguindo o código deontológico vigente à risca, informou-se, porque tem as suas fontes seguras – como o gajo que, quando não vende sopa de entulho na avenida 24 de Julho, vende farturas nas festas da Moita e arredores.
Os Queen vieram a Portugal apenas para contratar Quim Barreiros; não como acordeonista, não como animador de serões onde se vendem febras, mas sim como vocalista. Espante-se o nosso Portugal. É bem verdade, Brian May, o aclamado guitarrista da banda inglesa, após uma pesquisa intensa a bigodes imigrantes, concluiu que Quim – o nosso Quim! - é o que tem o bigode mais imigrante de todos os bigodes imigrantes. Confirma-se também que Quim Barreiros tem um bigode gay, mas isso daria “látex para preservativos” – como quem diz: “pano para mangas”. Quim Barreiros, como seria de esperar, ficou eufórico com o convite, tendo o passe sido integralmente pago pela banda. Assim se confirma que nos próximos tempos poderemos ouvir os êxitos de Quim cantados na língua de Sua Majestade; êxitos como “The Female Neighbours Garage”, “ The Cookery Master”, ou ainda “ Teresa Suck”.

Nota 1: Confirme-se que, a nível etimológico, Quim e Queen podem ter raízes semelhantes.
Nota 2 : Marante continua à espera do convite dos Pink Floyd; ou, quiçá, pelo arrojo das suas letras, para substituir Iggy Pop nos Stooges.

quarta-feira, 6 de julho de 2005

A saga de Zé João - parte II

Zé João foi hoje levantar o carro semi-novo, que teve apenas três donos, um Peugeot 206 com 75 mil quilómetros. Ironia das ironias, o pouco que aproveitou do agora prensado Renault 21 foram os três coletes. mas se assim lhe podemos chamar, a ironia ao quadrado foi que o stand Rebelo oferece um colete AMARELO a todos os clientes que ali comprarem o seu semi-novo veículo.

terça-feira, 5 de julho de 2005

A saga do Zé João que só queria retrorreflectir

O Zé João é um homem amargurado com a vida e pergunta-se a toda a hora por que raio decidiram alterar o código da estrada. Há alguns meses começou a sua tortura, quando ouviu no Jornal Nacional que o uso de um colete retrorreflector de acordo com a norma europeia NP EN 471 ou NP EN 1150 ia ser obrigatório. Começou a sua saga quase esgotante que o levou a percorrer todos os mini, super e hiper-mercados da zona que, para sua azia, ainda não estavam dentro das normas e por isso não vendiam os coletes. Uma questão de norma.

Nisto, quando finalmente conseguiu dormir, pela primeira vez, uma noite seguida - depois de ouvir no Você na TV, do Manuel Luís Goucha e daquela moça loira, que o prazo para compra de coletes tinha sido alargado - encontrou o vizinho Tó Manel, que lhe indicou a loja dos chineses como ponto de venda dos ditos retrorreflectores. Prontamente se dirigiu ao "Mundo Bom", porque se há coisa que não escusa é cumprir o que a Manuela Moura Guedes diz na televisão. Comprou cor-de-laranja, ó único que havia. Descansado colocou o colete, ainda embalado, tamanho XL por causa da cerveja e dos tremoços ao final do dia, na bagageira do seu bem estimado Renault 21.

Mas se há coisa que Zé João não perde é o Jornal Nacional e quando não é a Manela a apresentar, coloca a gravação do dia anterior no seu VHS Philips. Certo dia à noite, já depois da plástica e de estar como nova, Manela Moura Guedes, ela mesma, avisa que a cor do colete homologado não pode ser cor-de-laranja. Zé João sente a espuma da cerveja a percorrer-lhe as veias e, ainda por cima, já passa das 20 horas, e os chineses já fecharam o bazar. Dia seguinte, com umas olheiras até aos joelhos, é o primeiro a ser atendido e compra, desta vez, um colete verde. Pelo sim, pelo não, mantém o laranja na bagageira do seu carro francês de 1991 e junta-lhe o verde. Uma semana inteira descansado... foi o máximo que conseguiu, desde o anúncio do Governo, em Fevereiro do corrente.

Oito da noite e a Manela, com os lábios ainda mais vermelhos do que no dia anterior, esclarece que verde é capaz de ser má cor, já que é o tom usado nos coletes da GNR e, apesar da onda de insegurança, a multiplicação de coletes pouco ajudaria. Acabou por ser o primeiro dia que Zé João se confrontou com a sua úlcera nervosa e repetiu, vezes sem conta: amarelo, amarelo, amarelo. Desta vez, num misto de superstição e de patriotismo decide ir ao Alisuper comprar o colete AMARELO. Assim o fez e mais um colete para a bagageira. Quase de propósito, o sr. que manda na DGV convoca uma conferência de imprensa para o dia seguinte e esclarece, de uma vez por todas, que os coletes obrigatórios podem ser de qualquer cor. Assim mesmo, com esta frieza. As palavras verde, laranja e amarelo foram sentidas por Zé João como chumbadas de pressão de ar. E afinal, a utilização foi adiada mais uma semana.

Três coletes depois, uma úlcera nervosa e para cima de 10 euros gastos sem propósito, chegou finalmente o dia. "A partir de hoje é obrigatório o uso de colete retrorreflector", anunciava Manela, às oito em ponto, naquele que é o Jornal Nacional. A paz que parecia voltar a reinar cedo se desfez. A Maya, no SIC 10 Horas da manhã seguinte, insiste que é de muito mau gosto usar o colete vestido no banco do pendura - "um horror". Zé João, como acredita na taróloga e faz a sua vida de acordo com as previsões matinais de bons ou maus astros, dobrou o seu colete amarelo e voltou a colocá-lo na embalagem. No café central de Sassoeiros um dos amigos da "bejeca" avisa-o que a polícia vai multar quem andar com o colete dentro da embalagem, porque numa situação de emergência não é funcional. Zé João deixa a mini bem gelada a meio e corre até ao carro para desembrulhar novamente o colete. Com medo do que a Maya poderia dizer no dia seguinte, e com medo de influenciar os astros, já que o seu ascendente nesse dia estava em capricórnio, coloca o colete na bagageira, mas fora da embalagem.

A mulher, Francisca, que nada percebe de carros a não ser que o preço da gasolina sem chumbo 95 está sempre a subir, disse ao seu Zé João que o colete na mala do carro não servia para nada. "Então se tiveres que mudar um pneu, mal abres a porta do carro para ir buscar o colete, o guarda vai-te multar, porque deste um passo com o carro parado na berma sem estares a retrorreflectir". Assim mesmo, como vinha na revista Maria dessa semana. No intervalo da telenovela Zé João vai ao carro e toma uma das mais exigentes e difíceis decisões da sua vida. Deixa o colete verde na bagageira, o laranja no banco de trás dentro do plástico e o amarelo vestido no seu próprio banco. Agora sim, estava de acordo com a lei, com a norma europeia, com as cores, com tudo e podia finalmente pegar de novo no seu Renault 21, que não sai da porta da vivenda desde Fevereiro, para não arriscar a multa.

No dia seguinte, a sair do cruzamento onde se apresentava pela esquerda e quando os semáforos estavam avariados depois de uma fuga numa conduta de água duas ruas mais abaixo, teve um acidente. Ficou de boa saúde, mas o carro sem arranjo. Quando vai a sair do carro, ficou tão indeciso em realação ao colete que devia vestir que soltou, num desabafo mais que merecido: "Porra!"

o contraditório

Algúem já parou para pensar se os chineses e os indianos gostam do Alberto João Jardim?

segunda-feira, 4 de julho de 2005

Clemente é bonito.


Lançando um apelo à juventude deste meu Portugal, este jardim onde o que não falta são flores e espécies raras, digo-vos: olhem para o Clemente! Não só é um prazer olhar para um gajo assim, como é das poucas pessoas que faz lembrar uma estátua renascentista a andar, dado o ar marmóreo e intocável, e aquela aura de star system que paira à sua volta, na verdade é repelente para os mosquitos. Clemente é, de facto, bonito. Encontro-me aqui perdido, à 2:02 da madrugada, lavado em lágrimas e a ouvir o “…Zzz-zzz-zzz-zzz, sou uma abelha, sempre em busca do mel…”, e choro, choro muito. Pergunto-me, por que motivo não foi o Clemente ao Live8, que se passa no mundo!? Clemente é dos tais homens que podia ser mulher e ninguém notava a diferença, e até diziam, “Olha, ali vai aquela menina vestida de rapaz mais velho, até pôs água-de-colónia”. O Clemente, ai o Clemente. O Clemente é daquelas pessoas que nunca mais tem barba e se desculpa com a genética, é das hormonas. Não é bonita a inocência?! Clemente, volta aos palcos! Quero ouvir-te cantar e jogar à malha, para ver se te acerto com um disquinho daqueles que até não são pesados; quero correr pelos campos de trigo a ouvir a tua voz a ser levada pelo vento enquanto és triturado por uma debulhadora! “Vais partir, a fronha toda, e jamais tornarás a sorrir… la la la, la la la la la, la la la, la la la, la la la”…

Nota: Isto deve ser entendido como um manifesto de carácter racial! Eu sou terráqueo!

Mulher da vida morre…


Uma mulher da vida, que andava na rua de mini-saia pela cintura e de botas até aos cotovelos, morreu. Sendo uma mulher da vida, a morte apanhou-a, como é óbvio, por trás; agarrando-a nos cabelos, sem dó nem piedade, penetrando-se-lhe no corpo, passo a expressão, e, retirando-lhe a alma, deixou-a caída no chão, sem um tostão nem sistema de saúde. A princípio, julga-se que quem a matou é, portanto, um assassino, mas deixemos isso para a peritagem, porque também pode ser um homicida, ou ainda uma pessoa, o que torna as coisas muito mais macabras. Para Francisco Louçã, líder do Bloco de Esquerda, “…trata-se de um ultraje às liberdades pessoais, a morte não tem direito de matar, muito menos assim, a morte é ditatorial e imperialista e quando se morre é sempre para o mesmo”. É deveras estranho que uma mulher da vida tenha morrido, poderá tratar-se de um argumento plausível para o autor de “O Código Da Vinci”, mas não, é a realidade, as mulheres, mesmo sendo da vida, também morrem. José Sócrates nem deitou uma lágrima, pois a peritagem chegou à conclusão de que não se tratava de um gaj@. Marques Mendes disse que era inadmissível uma mulher da vida morrer durante um governo do PSD, O CDS mostrou uma estranha simpatia pelas palavras de Sócrates, já Freitas do Amaral continua pior que o Gervásio da reciclagem, tendo mesmo que aprender o que é a esquerda e o que é a direita desde o inicio.

Intelectual multado por excesso de citações.

Ontem, na livraria Ler Devagar, durante uma conversa amena sobre a implicação do pensamento “heideggeriano” nas contas públicas do Burkina Faso, um intelectual ousou fazer mais do que as três citações permitidas por noite, e por lei, a um intelectual. O indivíduo, que na altura vestia um fato xadrez e uma camisa com botões de punho, comprados na feira da ladra, de cor azul, usava também um papillon, terminando o conjunto com uns óculos de aros cromados, amordaçados pelas leis do devir, que irão perecer por certo quando menos se esperar, pois o tempo não poupa ninguém e a vida, esse grande mistério, não é devota à materialidade das coisas… Voltando ao tema da notícia; o indivíduo citou, em primeiro lugar, Berkeley, tendo sido imediatamente acusado de ser um metafísico inconsistente; não ficando contente – a conversa voltou-se para a questão dos investimentos no turismo naquele belo país africano – o indivíduo citou Kant por causa da temática das concessões das praias, citação que, apesar de ter ficado muito bem dado o contexto, ameaçava já a multa; no momento em que citou o terceiro autor, Schopenhauer, sentiu-se triste por ter falhado. Este indivíduo, embora tenha sido advertido por Vasco Graça Moura, conhecido reincidente, não deixou de receber a multa das mãos de Elsa Raposo, que por sua vez citou La Fontaine e, explanando e sintetizando toda a moral das fábulas dos animaizinhos da quinta, fez ainda referência a Santo Agostinho, quando mencionou a inquietação que um alho francês pode provocar.

Nota: Entretanto, Manuel Maria Carrilho não disse nada, nem citou ninguém, estava a mudar as fraldas a Dinis.