quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Post Apócrifo.

Livro do Empregado de Mesa
Capítulo 3, Versículo 34
:

«E tendo a corja pedido um jarro de sangria, ouviu-se em coro:
- E se Jesus quer ser cá da malta,
tem que beber esse copo até ao fim, até ao fim
e vai a cima e vai a baixo e vai ao centro
e bota a baixo e bota a baixo e bota a baixo
e bota a baixo(…)
É cá da malta!»

Livro do Empregado de Mesa
Capítulo 3, Versículo 35:

«Sendo Judas o mais certinho dos amigos d’O Filho do Homem [da Carpintaria] decidiu pois fazer-se ao caminho, pois tinha de estar em casa à meia-noite. Judas ficou conhecido como traidor por não ter estado durante todo o bota a baixo do Senhor.»

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A todos aqueles que ficam calados e que não têm opinião (ou não querem ter).

Todos somos incentivados à acção. Desde pequenos que os professores nos puxavam pela língua, que o avô nos obrigava a cantar à frente da família inteira a cantiga ensaiada, que aquele que levanta o braço para falar é recompensado. O tipo expansivo, opinador e participativo é sempre visto com bons olhos, enquanto que o indivíduo com o comportamento contrário é menorizado (é inteligente como uma porta), ignorado (nem se dá por ele), resumido a mais um entre os outros.
Ora eu não podia discordar mais. E passo a explicar.
Os espaços de conversa abertos nas televisões durante as tardes estão bloqueados, entupidos com telespectadores que não se cansam de opinar. E opinam sobre os mais variados temas sem o mínimo conhecimento do que quer que seja. Entram no ar e não largam o seu tempo de antena, os seus 15 minutos, num chorrilho de opiniões emotivas e solavancos indignados. Não desgrudam o que acham ser seu por direito, tal como um bêbado num karaoke.
Este passa palavra, a diarreia verbal de todos aqueles que querem usufruir do seu direito à liberdade de expressão, e que o defendem com unhas e dentes, é absolutamente maçador e inútil.
E mais, há ainda os que inundam as caixas de opinião pública com emails ou os que gastam ainda mais (!) dinheiro em votações telefónicas com um desfecho óbvio.
A democracia tem destas coisas, dar voz a todos é abafar aqueles que realmente importa ouvir. Estes programas são como estar a ouvir atentamente uma conversa de balcão num café. É chato e uma perda de tempo. Eu tenho paciência mas não a pachorra para este tipo de fóruns de opinião que puxam sempre pela opinião fácil e emotiva: A menina que todos querem adoptar (ninguém pensa na criança?), as agressões do selecionador (foi sem intenção), o estado da economia portuguesa (isto está que é uma vergonha!). E depois os temas vão do mais disparatado ao mais específico que há numa profissão: Deviam os idosos ter mais atenção? Mas quem é que vota nisto? Concorda com o novo código penal? Sim, todos já o lemos em profundidade.
Este passa palavra aborrece-me de morte e não consigo mesmo compreender o exibicionismo em expor opiniões na televisão. Não é por estarem na televisão que deixam de ser meras opiniões. E eu pergunto para quê? porquê darmo-nos ao trabalho? E ainda por cima pagando. Muda alguma coisa? Não, pois não?
Eu indigno-me e remeto-me ao silêncio. Não quero ter opinião e mesmo que tivesse não a ia comunicar.
E diz o povo, aquele que realmente é sábio:
A palavra é de prata. O silêncio é de ouro.