sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

Crónica :: Provérbios Provados :: Provérbio suburbano

São 11 da manhã e o Manel Zé conta os parcos trocos que sacou da algibeira. Hoje já chegou tarde à estação e não apanhou a leva dos passageiros que tomam o comboio para os seus trabalhos. No entanto continua de pedra e cal junto às máquinas dos bilhetes no habitual peditório matinal. Desde que foi corrido dos estacionamentos mais próximos pela concorrência desleal, Manel Zé adoptou as máquinas verdes como suas e não arreda pé. Gosta mais destes companheiros de pedinchice que o acolheram num dia de chuva sem perguntas: a velhota que traz o banquinho e a manta e pede num lamento que podia ser o da sua avó, o rapaz da prótese na perna que se senta nas escadas ao lado das muletas, o velho de barbas brancas e sempre o mesmo fato preto que arrasta em passinhos muito lentos, as ciganas romenas que rogam em voz rouca com toda a emoção de um teatro e o pai de todos, o cauteleiro, que, nos dias em que o pregão vende mais sonhos de prémios na lotaria, oferece sopa a todos eles. Aqui está encostado à máquina à espera de uns cêntimos e pensando em como a tarde será complicada dadas as recentes rusgas e apreensões no bairro das compras, quando vê passar o Quim Tó e logo o chama, abrindo a boca no seu sorriso de dentes podres. O Quim Tó traz o ar de quem já matou a ressaca, e diz-lhe generoso:

- Então, ‘tá a render ou nem por isso? Huum...’tava tudo com pressa pr’apanhar o comboio, já vi!. Deixa lá isso pá, e nem penses em ir pós lados da casa do Jardas, a fonte ‘tá seca e aquilo ‘tá cheio de mona. Anda lá comigo, eu consegui orientar-me... mas olha que não é grande espingarda, já te aviso...

- Epá obrigado, que não mora guito no bolso, e mesmo não sendo do bom, sempre ouvi dizer que

* A cavalo dado não se olha o dente.


P.S. – Post livre de preconceitos odontológicos, e quiçá tomando um analgésico porque fui hoje desvitalizar um dente.


by Gui

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

Crónica :: Provérbio Provado :: (In)provérbio

Esta semana não há provérbio provado. Vou agora para a terrinha onde não há internet e por preguiça, e por falta de inspiração, não escrevi a "crónica" a tempo. Na próxima sexta aí estará sem falta. É caso para dizer que:

- Nem todos os dias são dias de feira

P.S. – Post completamente livre de preconceitos.


by Gui

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Caricatura de Luís Filipe Vieira provoca aumento da violência doméstica

No decorrer desta semana, determinado jornal desportivo publicou uma caricatura do presidente do SLB, Luís Filipe Vieira. O que a princípio não passou de uma brincadeira traduziu-se num aumento do fluxo de chamadas para a APAV. O tema das chamadas rondava sempre os mesmos assuntos, «o meu marido não come, chora, queima jornais e galhardetes da colectividade, vira-se para a Luz e reza e dá-me porrada de meia-noite». Uma pessoa, da APAV, da qual não posso referir o nome, por causa de ameaças da Máfia chinesa que domina a instituição supra citada, disse ao Ventoinha que, se a violência se continuar a espalhar pelos lares à mesma velocidade do fluxo de chamadas, é mesmo impossível parar o Benfica. Este surto de violência doméstica é o culminar de resultados menos felizes do Benfica aliados à caricatura horrenda publicada no jornal. Isto faz lembrar qualquer coisa.

Uma piada da Manuela por dia dá saúde e alegria

A Manuela tem uma boca tão grande que quando o José Eduardo Moniz a quer beijar tem de chamar os amigos todos para o ajudar.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Crónica :: Provérbios Provados :: Provérbio Pessoano

« (...)

É humano querer o que nos é preciso, e é humano desejar o que não nos é preciso, mas é para nós desejável. O que é doença é desejar com igual intensidade o que é preciso e o que é desejável, e sofrer por não ser perfeito como se se sofresse por não ter pão. O mal romântico é este: é querer a lua como se houvesse maneira de a obter.

"Não se pode comer um bolo sem o perder."

(...)»

in O Livro do Desassossego

 
P.S. – Post livre de preconceitos heteronímicos, e quiçá convocando os outros todos que também habitavam nos planetas do Fernando Pessoa.


by Gui

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

Pub - A influência de uma boa bilha

O Jonas é um recém-adulto, com 20 anos, matreiro, preguiçoso, que gosta de aproveitar a vida e, como ele diz, de gajas. Muitas gajas. No intervalo do episódio dos Morangos com Açúcar, onde delira com as mini-saias das meninas, viu um anúncio da Galp a anunciar as novas bilhas, umas tais de Pluma. E, literalmente, babou-se com a polaca boazona do anúncio. Ficou maravilhado e disse para si próprio que tinha de ver mais perto aquele símbolo da Galp no bolso traseiro dos calções. Apesar de ter gás natural em casa, isso não impediu que fosse rapidamente à Internet ver o número das encomendas das bilhas de gás. Telefonou, encomendou uma Pluma e pediu urgência na entrega porque tinha ficado sem gás em casa. Ficou então marcado para a manhã seguinte. Os pais nem desconfiaram. De manhã, levantou-se cedo, baldou-se às aulas e convidou cinco amigos para virem lá a casa ver a bilha e a Pluma. Baldaram-se todos às aulas e, mais ou menos á hora marcada para a entrega, foram chegando. E lá estavam, todos sentados no sofá à espera que a campainha tocasse. A excitação era mais que muita e, quando a campainha finalmente soou, o sangue parou-lhes nas veias. Risos histéricos, excitados e nervosos e lá vai o Jonas a correr para a porta, com o seu ar de engatatão e de rapazolas sem vergonha.
- Quem é?
- É o Círculo de Leitores…

Crónica :: A cor das coisas :: Livros de cor

Hum, hum (aclarando a garganta).
Trrrruuuuuuuu (rufar de tambores)
Plim (errrr... uma onomatopeia- adoro esta palavra- estúpida como tudo)
Pois que hoje - rejubilem - vos presenteio com o mundo maravilhoso dos livros coloridos, dos livros com cores, dos livros de cor.
Há montes e montes de livros que nos seus títulos oferecem cores e mais cores de forma a prender o olhar e a imaginação do leitor.
Temos o "Vermelho e Negro", o clássico do Stendhal, "A casa Verde", do Mário Vargas Llosa, "Obra ao Negro", da Margueritte Yourcenar, "As naus de verde pinho", desse grande querido que é o Manuel Alegre (na sua estreia para crianças), "O caderno vermelho" do charmosíssimo Paul Auster, "Olhos azuis, cabelo preto" de outra Margueritte mas desta feita Duras, "Olhos verdes" da tuga Luisa Costa Gomes e num registo mais infanto-juvenil "A fita cor-de-rosa" da mais querida de todas as queridas Alice Vieira e finalmente, "Capuchinho Vermelho" que deve ser dos irmãos Grimm, ou então não.
Fiquem atentos pois na próxima semana brindar-vos-ei com nomes de filmes com cores. Vai ser a loucura.


by Leididi

Piadão eclesiástico Ventoinha que na verdade é um comentário do treinador do Papa

“Se o Bento continuar décimo sexto pode descer de divisão! E… esta época descem quatro, como sabe. Esperemos que se porte melhor na próxima encíclica, vamos jogar contra o lobbie gay e… nunca se sabe. Mas, o que é preciso é ter fé!”

terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

Censos Ventoinha - Nova pergunta. Todos a participar!!!

Depois do sucesso do primeiro inquérito Ventoinha (temos de vender o peixe), surge a segunda pergunta deum mega estudo que visa caracterizar os leitores deste blog. Portanto apela-se à participação de todos nestes Censos Ventoinha que lançam mais uma questão crucial:

Quando vão comprar pão, ou simplesmente quando se referem ao pão geralmente pequeno, feito de farinha de trigo fina, fazem-no usando qual das seguintes palavras: carcaça ou papo-seco?

O método é o mesmo, as respostas devem ser enviadas por e-mail para maisventoinha@gmail.com com a palavra escolhida, sexo e idade. As respostas serão aceites até à próxima terça-feira às 12 horas.

Participar nos inquéritos Ventoínha é mesmo na boínha!

Terminou o inquérito...

... e os resultados vão agora ser tratados cientifica e estatisticamente pelo Instituto Ventoinha de Estatistica (IVE). Para já adianto apenas que obtivémos 12 respostas e que... um dos primeiros resultado que posso adiantar é que:

-100% dos leitores (homens) do Ventoinha preferem o papel higiénico E as mulheres? Resultados em breve...

Hoje à noite é lançado um novo inquérito, preparem-se para responder e participar nesta variante dos Censos.

Plano Tecnológico chega a paróquia de Bragança: "...e não pára por aí!" diz Bill Gates

Foi durante a semana passada que Quintela de Lampaças viu substituídos os velhos hábitos eclesiásticos por uma lufada de ar tecnológico. Durante a visita de Bill Gates ao nosso estimado país, foi assinado um décimo nono protocolo, inserido também no Plano Tecnológico, que visa modernizar a Igreja – começando por paróquias de freguesia e tornando santos e homens numa mesma amálgama de bits e bytes. Assim, como manda o futuro, que a Bill pertence, Quintela de Lampaças vai dar um salto na inivação tecnológica. A inovação, já posta em prática, foi substituir o pároco por uma máquina de vending que a troco de €0,25 dá uma hóstia, a troco de €0,50 uma hóstia e uma oração, a troco de €1,00 uma hóstia, um bocadinho de vinho e uma oração. A máquina, que agora é o mais que tudo dos populares, funciona como as máquinas de tabaco, tendo uma quantidade enorme de orações à escolha e hóstias com várias formas e para vários feitios; já que, pecadores somos todos. Por €2,00 é ainda possível ser confessado e obter uma bênção, por vídeo-conferência, do Papa Bento XVI.
O fabrico e exportação das hóstias pertencem ao Vaticano, sendo a empresa exportadora uma grande multinacional (privada) de fast food cristã, conhecida nos circuitos de peregrinação. Segundo o que o Ventoinha apurou, a multinacional, que à partida não quis revelar o nome, chama-se Il Snachi di Judas, e assinou um protocolo com a Microsoft para futuras parcerias em vending machines. Estão agora em conversações com as igrejas ortodoxas, uma vez que as protestantes e a romana já se encontram vendidas. Salvo seja!
Por acaso, Bill Gates não disse nada daquilo que vem no título, primeiro porque fala em inglês e depois porque era só para dar mais interesse aos leitores. Desculpem.

Nota: Antes do fecho desta edição obtivemos uma queixa de mau funcionamento da máquina. Aparentemente estava possuída por Satanás e acabou por não dar troco a duas beatas – de resto, funciona perfeitamente.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

Ainda faltam respostas de muitos leitores!

Já só falta um dia para acabar a votação. Aos que ainda não mandaram o seu voto (visitantes, cronistas e bloggers), toca a despachar. Amanhã às 12 horas fecha o inquérito que vai surpreender (ou não). Para quem não sabe o que estou a falar, veja Inquérito e participe!

Uma questão de cor

Comprei um relógio verde futuro e estou feliz porque estava farto do meu outro que era verde alface.

Crónica :: Liquidação Total :: Ode à calçada portuguesa

Tu, que me dás cabo dos nervos por seres tão simétricazinha e preta e branca e toda certinha
Tu, que me dás cabo dos saltos dos sapatos, que me fazes ficar encravada e passar vergonhas de meia noite
Tu, que és um ex-libris da cidade e "ai, tão linda que ela é", dizem os parolos dos estrangeiros
Tu, que não aguentas que um carrinho de nada te passe por cima, que te desmanchas logo toda, menina, pfffffff
Espera que eu chegue a presidente da Câmara de Lisboa e logo vês onde é que vais parar


by Pipoca

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

O rugby feminino

Depois de um certo e determinado comentário ao post anterior, eu me confesso. Eu estive nos saldos da Bershka. Pronto, calma. Eu acompanhei uma pessoa aos saldos na Bershka e, desta vez, decidi não ficar à porta junto aos 120 gajos que lá costumam estar e, destemidamente, entrei. E confesso que fiquei maravilhado com aquele universo que, suponho, seja igual na Zara, na Mango e afins. De um lado a nova colecção, pejada de mulheres (e sobretudo raparigas, que serão também mulheres um dia) civilizadas, à procura da sua pecita de roupa, a tentar combinar tops com saias e, normalmente, sempre acompanhadas de uma amiga. Circula-se de forma bastante pacífica (não confundir com agradável). E, depois, do outro lado da loja, os saldos que, cada vez mais me convenço, são sinónimo de loucura, mesmo para aquelas que estavam calmamente a ver a nova colecção. Eu desconfio que em cima da zona dos saldos eles lançam um produto químico qualquer que provoca efeitos muito estranhos nas mulheres, mesmo nas mais pacatas. Há ali uma espécie de barreira invisível. Mudam a expressão, assumem uma postura mais agressiva, flectem os joelhos como é bom fazer em situações de ataque ou de mobilidade rápida, assumem uma postura de concentração máxima e todo o corpo fica tenso, sempre à espera do impulso que as levará a agir. Se há um top vermelho lá ao fundo, lançam-se numa veloz e possante corrida, saltando obstáculos, derrubando expositores, e atirando-se às pernas de qualquer outra mulher que ouse agarrar aquele top vermelho (que fica tão bem com aquela saia comprada minutos antes na Zara). E atiram-se mesmo. E, mesmo que o top seja o número abaixo, não faz mal, porque já o fisgaram e vão achar, nos espelhos que reduzem as misérias, que fica a matar. Mesmo que não o achem, compram na mesma. Isto acontece num espaço não muito grande, com inúmeras mulheres em posição de ataque (salvo seja!). Daí parecer-me que os saldos poderão considerar-se o rugby feminino.

P.S. – Neste meu momento divertido encontrei a Gui, por acaso com uma amiga, a Natacha (que poderá também ser Natasha) – que, por acaso, ainda não respondeu ao inquérito Ventoinha, tal como metade dos nosso leitores. E encontrei a Gui, dizia eu, agarrada às pernas de outra gaja qualquer a tentar tirar-lhe um bolero verde seco. A coisa estava complicada mas, no fim, tudo se resolveu porque o dito apetrecho afinal era verde BES e a Gui desistiu.

Crónica :: Provérbios Provados :: Provérbio Fábula

O Era uma vez desta história começa há muitos muitos anos, mas não assim há tantos que as galinhas ainda tivessem dentes. Estava Deus a dormir a sua sesta numa nuvem quando O vieram avisar que era o dia da Festa da floresta e convinha oferecer qualquer coisa aos animais para rifar na quermesse. Ora Deus, que era uma divindade preguiçosa, impaciente e nada perfeccionista (é sabido que criou o Mundo em apenas sete dias), resolveu largar um saco de nozes no primeiro local que lhe apareceu à frente na entrada da floresta. As nozes caíram como chuva no terreiro da Dona Chica, que se assustou mais do que com o berro que o gato deu, e foram esgaravatadas e debicadas alegremente pelas galinhas até se confundirem com o pó do chão. Quando os roedores das redondezas se aperceberam do acontecido, apressaram-se em espalhar a notícia que chegou num voo às orelhas da juba do Rei Leão. Num rugido o Rei reuniu o Conselho da floresta, pigarreou, e resumiu nesta sentença, digna de La Palisse, a moral da história:

- Dá Deus nozes a quem não tem dentes


P.S. – Post livre de preconceitos religiosos, e quiça convidando o Buda para protagonista duma sequela da fábula.


by Gui

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

Mais uma iniciativa Ventoinha. Apela-se à participação de todos!

E hoje, dia 1 de Fevereiro (calhou!), abre-se no Ventoinha uma nova rubrica que pretende conhecer melhor os nossos leitores. Tudo isto através de simples perguntas que vão resultar em brilhantes estatísticas que, no limite, até poderão ser vendidas ao INE. Os dados recolhidos serão confidenciais, mas serão depois utilizados pelos nossos serviços de marketing directo para tentar impingir certos e determinados produtos do interesse dos leitores. Portanto, não há o que temer. Agradecemos desde já a colaboração de todos e passem palavra!

A primeira pergunta é:

Depois de fazerem as vossas necessidades fisiológicas, preferem limpar-se com papel higiénico (inclui os húmidos, o preto, o folha dupla, tripla, etc etc), ou com toalhitas?

As respostas só serão validadas se enviarem um e-mail para a morada do costume - maisventoinha@gmail.com - com a vossa preferência, idade e sexo (muito importante!)

Esta votação termina na próxima terça-feira, dia 7, às 12 horas.

Ventoinha, até já!

Post que repete o diálogo mais ouvido nos últimos dias, por amigos, vizinhos, colegas, desconhecidos...o que resulta numa resposta parva!

Tá um frio....

Ao que eu, farto de ouvir esta singela frase, respondo:

"Eu até acho que estão dois ou três frios, porque não se aguenta".

Crónica :: A cor das coisas :: Quando a inspiração não abunda (e há outros a escrever bem melhor que eu)*

"Subitamente - que visão de artista!-
Se eu transformasse os simples vegetais
À luz do sol, intenso colorista,
Num ser humano que se mova e exista
Cheio de belas proporções carnais?!
 
 
As azeitonas, que nos dão o azeite,
Negras e unidas, entre verdes folhos,
São tranças dum cabelo que se ajeite;
E os nabos- ossos nus- da cor do leite,
E os cachos de uvas- os rosários de olhos
 
 
E, como um feto, enfim, que se dilate,
Vi nos legumes carnes tentadoras,
Sangue na ginja vívida, escarlate
Bons corações pulsando no tomate
E dedos hirtos, rubros, nas cenouras".
 
* Cesário Verde, Num bairro moderno


by Leididi