terça-feira, 20 de junho de 2006

Post Poema Paródia: O Português Suave

Do Português Suave
O que vou dizer
Não é grave

Não se apoquentem os olhos mais pátrios
Que isto de assembleias e de repúblicas
Ou são brincadeiras de putos nos pátios
Ou enrabadelas económico-lúdicas

Abram alas para o jocoso, malandro, Chico esperto
Mandrião, peralvilho, guloso e canastrão
Deixem passar o Português Suave, anti desperto,
Que veio de Abril com o remote control na mão

(Deixem-no ir a mudar de canal
Escolher o espectáculo onde não é artista
Canta canário, dorme canário, muito trabalho, pouco salário
Ai que está caro, o alpista!)

Aí está o Português Suave, ronceiro, cheio de esperança
Na Justiça que tarda a vir na lotaria
Prefere a aproximação à sorte grande na balança
Prefere não dar troco aos que comem em demasia

Os que comem em demasia, também em demasia falam
E é assim a democracia, não há bela sem senão
O Português Suave discute, sim!, mas na mesa da cervejaria
E vai para casa, atravessado, crendo que tem opinião!

P.S. – Se nada disto fizer sentido
Dou o dito por não dito
Calo-me, abstendo-me
Do que vejo e acredito

domingo, 4 de junho de 2006

Provérbios Provados :: Provérbio em capítulos - Cap. III

Finalmente o Mendes chegou à conclusão de que com o Tó Marmeleiro não faria dinheiro. Quanto muito faria farinha com a Belinha, moradora de Vila Bela. Mas só lhe restava fermentar-lhe a imaginação com umas quantas antologias poéticas e outros tantos romances de cordel para sobremesa do primo Manel. O meio era rural, mas não tão arcaico que se chegasse a vias de facto de duelos e coisas que tal, e Belinha acatava, pacata, o Conselho Familiar que, encabeçado pelo tio Fragata, deliberava a propósito da sua futura descendência. Vila Bela situava-se longe do mar e o tio era Fragata só de alcunha, pois na realidade era caçador, e apreciava nos machos mais a capacidade de recolecção do Neolítico que o fraseado do Romantismo. Indicava o primo Manel, salientando as suas qualidades de varejador na apanha da azeitona mas, adivinhando a predilecção da Belinha pelo palavroso Mendes, murmurava para o compadre Marmeleiro:


- Tenhamos a perdiz, depois se tratará do molho


by Gui