Ontem, na livraria Ler Devagar, durante uma conversa amena sobre a implicação do pensamento “heideggeriano” nas contas públicas do Burkina Faso, um intelectual ousou fazer mais do que as três citações permitidas por noite, e por lei, a um intelectual. O indivíduo, que na altura vestia um fato xadrez e uma camisa com botões de punho, comprados na feira da ladra, de cor azul, usava também um papillon, terminando o conjunto com uns óculos de aros cromados, amordaçados pelas leis do devir, que irão perecer por certo quando menos se esperar, pois o tempo não poupa ninguém e a vida, esse grande mistério, não é devota à materialidade das coisas… Voltando ao tema da notícia; o indivíduo citou, em primeiro lugar, Berkeley, tendo sido imediatamente acusado de ser um metafísico inconsistente; não ficando contente – a conversa voltou-se para a questão dos investimentos no turismo naquele belo país africano – o indivíduo citou Kant por causa da temática das concessões das praias, citação que, apesar de ter ficado muito bem dado o contexto, ameaçava já a multa; no momento em que citou o terceiro autor, Schopenhauer, sentiu-se triste por ter falhado. Este indivíduo, embora tenha sido advertido por Vasco Graça Moura, conhecido reincidente, não deixou de receber a multa das mãos de Elsa Raposo, que por sua vez citou La Fontaine e, explanando e sintetizando toda a moral das fábulas dos animaizinhos da quinta, fez ainda referência a Santo Agostinho, quando mencionou a inquietação que um alho francês pode provocar.
Nota: Entretanto, Manuel Maria Carrilho não disse nada, nem citou ninguém, estava a mudar as fraldas a Dinis.
Nota: Entretanto, Manuel Maria Carrilho não disse nada, nem citou ninguém, estava a mudar as fraldas a Dinis.
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