Entre duas vidas que se quiseram. O chegar tarde para se mostrar arrependido, a simples vontade de não partir, o querer ficar preso, as palavras mal ditas, as cantigas de malandro, as promessas não cumpridas, a falta de compreensão, comprimentos de onda diferentes, mortes em separado, os risos, a felicidade dada sem pedir em troca, o choro, a mágoa, a companhia, na tristeza, na alegria, a espera, o desespero, o estar farto, o não estar farto sequer, a segurança dos sentimentos, a queda em falso, a falsidade da queda, a paixão que engana, as ideias confusas, a amizade, a cedência, a reconquista, a paciência, o afecto, o carinho, a festa, o beijo, os olhos, os segundos sentidos, os ciúmes, as esperanças, as intelectualidades, os apreços, o respeito, o não aprender a partir para longe, o aprender a estar junto, com diferenças, incompatibilidades, arestas por limar, feitios, teimas, o amor, a ilusão, por fim, muitas vezes, os regaços um do outro... por tudo isto esta letra de Chico Buarque:
Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás só fazendo de conta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir
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