Como não há regra sem excepção, não é assim tão exacto dizer que toda a gente por essas terras evitava o Mendes e dele fugia como do diabo. Em Vila Bela o Mendes tinha uma cliente fidelíssima, tão bela de seu nome como a vila, que era a Belinha da retrosaria. A Belinha manifestara desde criança uma forte apetência para a leitura, mas infelizmente não houvera dinheiro na família para ela poder ir estudar para a Cidade Grande. O pai, o Tó Marmeleiro, que era alfaiate, até costumava dizer: "Tomara eu que a miúda não gostasse tantos dos livros, que havia de tornar-se uma bela costureira".
Foi assim que Belinha começou a trabalhar na retrosaria familiar e enquanto enrolava carrinhos de linhas e desfiava meadas, sonhava-se a tecer o manto do Tempo com as ninfas gregas. Grande parte do seu salário destinava-se à mercadoria da carripana do Mendes. Ele trazia-lhe livros por encomenda, desdobrava-se em ofertas de revistas e atenções. Tó Marmeleiro começou a desconfiar das constantes aparições do Mendes e do seu palavreado complicado, via como a Belinha se derretia ao ponto de falar com voz de mel e um dia, à hora de fechar a retrosaria, chamou-a à parte e disse-lhe:
- Podes casar com quem quiseres contanto que cases com o primo Manel.
by Gui
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